Os relatos de si disponibilizados online, através dos muitos sites de redes sociais, nos revelam que a invisibilidade social relaciona-se menos com a ausência de espaços e temporalidades de acolhimento dos corpos e performances, e mais com a dificuldade de se encontrar uma existência social e comunicacional para sujeitos vulneráveis. Mostrar, revelar, expor o outro em imagens e palavras, o tornaria mesmo visível? Se a visibilidade depende da comunicação direta, intersubjetiva, da leitura e interpretação dos gestos significativos e das narrativas identitárias, a confirmação do valor social implicada neste tipo de interação dificilmente se realiza quando os retratados não estabelecem, com seus leitores virtuais, uma relação potente de troca e solidariedade. A potência política, ética, estética e normativa da noção de solidariedade, quando associada à produção de relatos de vítimas online, nos permite identificar as operações que constituem os regimes de visibilidade capazes de regular e constranger o “aparecer” dos sujeitos, além de assegurar uma distância entre a “vítima” e o “espectador”, de modo a evitar um contínuo confuso no qual se perde toda a probabilidade de alteridade, de diferença e de hospitalidade.
Sumário
1 – SOLIDARIEDADE: NOÇÃO E FORMA
1.1 Um conceito em movimentos
1.1.1 Do consenso normativo à categoria discursiva
1.2 A rede e os dispositivos
1.2.1 Dispositivos de visibilidade em enunciação de vítimas
1.3 A construção de uma abordagem metodológica qualitativa: aproximações com a etnografia virtual
1.3.1 A delimitação de um campo de pesquisa em rede
1.3.2 Coleta e sistematização de dados
1.3.3 A seleção de casos
1.3.4 Os relatos-postagens como dados de análise qualitativa
1.3.5 Os casos em análise
2 – AGENTES SOLIDÁRIOS
2.1 A construção enunciativa da vítima
2.1.1 Relatos de si e a produção da fala política da vítima
2.2 O outro possível de uma vítima
3 – APELOS SOLIDÁRIOS
3.1 As causas e os casos
3.2 Relatos-postagens de doenças: o apelo como clamor
3.2.1 O dom, a solidariedade e o reconhecimento de quem atende ao clamor ético do rosto
3.3 Relatos-postagens de violências: o apelo como reivindicação
4 – O COMUM DA DOR: DA SOLIDARIEDADE EM REDES
4.1 A configuração do sujeito político nos relatos-postagem
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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